Total de visualizações de página

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A arte de ter razão e seus percalços




 














Durante as comemorações do título recém-conquistado, os torcedores do Flu encontraram tempo para surrar um camelô e destruir todo o material que ele tinha, seu ganha-pão. O motivo? As faixas que ele vendia traziam escrito “Flu Bi-Campeão”. Entenderam? “Bi”, não “Tri”.
Outro dia desses eu vi o grupo Roupa Nova na TV fazendo uma homenagem ao mesmo Fluminense. Até aí nada de mais; todos os seis integrantes do grupo são tricolores. Só que, a certa altura o repórter pergunta ao baixista Nando se este sabia a escalação do time do Flu, ao que ele respondeu sem pestanejar: “Sim, dos três títulos.”
Bom, apenas com estes dois fatos já dá ter uma ideia da polêmica já antiga, é claro, mas que só agora chegou às Laranjeiras: os títulos nacionais anteriores à 1971 devem ou não entrar na conta? Quem os conquistou é ou não “Campeão Brasileiro”? Quem tem razão, a torcida ou a CBF? Enfim, qual é o segredo de Tostines?
Um pouco de história: a CBF, tal como é hoje, só passou a existir em 1979; o que existia antes era a CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Esta, por sua vez, foi fundada em 1919, quando o football já era esporte mundial consolidado. Enfim, sempre chegamos atrasados. Pois nestes anos todos a CBF/CBD primou pelo amadorismo; especificamente em relação aos clubes. Em vez de fazer desde o início um campeonato nacional como nos outros países, a entidade deixou rolar os campeonatos estaduais, uma bobagem que só existe no Brasil. Por conta disso existem hoje excrescências como “football paulista”, football carioca”, etc. Por que não apenas football brasileiro? Por causa do amadorismo da CBF.
A Copa dos Campeões Estaduais, em 1920, poderia ser considerada como um embrião dos futuros campeonatos nacionais? Tinha apenas os campeões de RJ, SP e RS, mas já era alguma coisa. Em 1933 surgiu o Torneio Rio-São Paulo. Em 1959, o Campeonato Sul-Brasileiro; uma aberração. A coisa se normalizou mais ou menos em 1959 com a Primeira Taça Brasil e é aí que começa a polêmica. O simples fato de não ser chamada de “campeonato brasileiro” interfere em quê, se já era um campeonato nacional? Até 1971 não existia, nas contas da CBF, o tal “Campeonato Brasileiro”, isso todos sabem. Mas eu pergunto: quem disse que depois disso ele existiu de fato? Cada ano era com uma fórmula de disputa diferente, o que tornava o Brasil, as vezes, em motivo de chacota na imprensa esportiva mundial. Nos dois primeiros anos se chamou “Campeonato Nacional de Clubes”. Nos dois seguintes, “Campeonato Brasileiro”. De 1975 à 1980, “Copa Brasil”. De 1980 à 1986, “Taça de Ouro”. De 1987 à 1989, “Copa União”. E de 1990 em diante, “Campeonato Brasileiro”. Se antes de 1971 não existia “Campeonato Brasileiro” apenas porque não se chamava “Campeonato Brasileiro”, o que dizer dos anos seguintes com as constantes trocas de nomes? E pior, o que dizer da “Copa João Havelange” em 2000? O que dizer das viradas de mesa que já salvaram Grêmio e Fluminense do rebaixamento? O que dizer de 1987, ano em que a CBF aprontou a MAIOR TRAPALHADA DA HISTÓRIA DO FOOTBALL BRASILEIRO?
Olha, eu prefiro ignorar todos os tais campeonatos anteriores à 1959, mas deste ano em diante não há como fugir da polêmica; a CBF é e sempre foi a maior causadora de problemas no football brasileiro e, ao não “reconhecer” os campeões deste ano e dos seguintes com o legítimos campeões brasileiros, ela só aumenta a confusão e protela a solução. O Fluminense vai continuar se declarando tri-campeão quer a CBF queira ou não. Pois paradoxalmente a solução para isso tudo só pode vir da própria causadora da confusão; os times agradeceriam, a imprensa idem. O que fazer então?
Concluindo: o Flu não é tri e o Fla não é Hexa apenas porque a CBF não quer. Mas não é a CBF que entra em campo pra jogar, são os clubes. A CBF na maioria das vezes só atrapalha a festa; não é a toa que é a entidade mais desacreditada do Brasil só perdendo para o Congresso Nacional. Alegar que a Lei está do lado dela (como na polêmica de 1987) não muda os fatos pois há uma distinção óbvia entre LEI e JUSTIÇA que qualquer estudante de direito conhece. Pois então, caro leitor, escolha você mesmo como se chama o título do Flu: bi ou tri. Você decide.

*******************************************

Sobre 1987 e a Copa União, não vou chover no molhado; se alguém quiser me processar, fique à vontade. Mengão Hexa-Campeão!

Por Nielsen, Carioca Desterrado
Em 13 de dezembro de 2010, 4:12 P.M.